quarta-feira, novembro 16, 2011

Ligações Dativas

Aconteceu assim, encontrei-o no ônibus, os dois voltando entediados com a longa viagem. E a conversa se iniciou como sempre: falou-se do tempo, das estradas, da minha recente extração de siso, de como ele gosta de correr e dos policiais corruptos.

A conversa fluiu, gostei do cara e ele de mim, quando a viagem terminou eu só sabia duas coisas: que ele tinha 46 anos e que eu queria vê-lo novamente.

Ele muito pouco soube de mim, tenho um jeito estranho de conversar e contar as coisas sem dizer nada.

Assim íamos os dois cada um pro seu lado sem maiores pistas um do outro, mas como já dizia o mago Merlin em um de meus livros preferidos: "o destino é inexorável". E assim sendo encontrei-o novamente no pátio superior na praça de alimentações, sentado e sozinho. Pra poupar as obviedades, pus minha timidez de lado e sentei à mesa, com ele. Lá eu descobri mais coisas... e embora continuasse falando muito pouco de mim, ainda queria saber mais dele. Gosto de ouvir as pessoas.

Bem... eu tinha que me apresentar em casa, dar sinal de vida, e assim fui, deixando marcado um encontro já no dia seguinte, e assim fui.

Nesse encontro eu já nem queria saber muito mais não, sinceramente só aceitei por 'cavalheirismo' e galanteio, deixei o jogo correr.

Que pessoa era aquele homem, ser suavíssimo, minha avó diria que era um 'homem à moda antiga', e eu concordaria sem hesitar, mesmo em tão pouco tempo.

Pois bem... A conversa era boa, a voz mais ainda, divertido... E eu já começava a ficar desconfiada de tanta 'sorte', e foi ai que vieram os dados que eu não queria ter sabido, passaria bem, muito bem sem eles. Era divorciado, tinha uma filhota (ele a chamava assim) de 27 e um garoto de 23 anos, uma mãe muito velhinha e também era policial aposentado. Eu disse, não queria saber... Filhos na mesma faixa etária, gírias cafoninhas, mãe velhinha, tudo bem por mim, não ligo mesmo, mas policial?! O cara mais Sean Conory na fase 007 que me brota assim do nada tinha que ser milica? Aaaaah

Não gosto mesmo, nunca gostei e tenho cá meus motivos. E tudo isso eu lhe disse. Mas já era tarde... tarde demais pra eu estar na rua com um policial estranho e também pra apagar o dia excelente que tive com ele.

Sumi um dia, não atendi, nem li as mensagens no celular. Passado o drama e a minha paciência pra fazer charminho liguei e ele apareceu, talvez para me raptar, roubar meus órgãos sadios e sumir com o corpo, talvez para que eu pagasse as injurias da família na época da ditadura, enfim... muitos talvez.

O fato foi que fui pra casa dele, e até isso foi suavíssimo, o cara era muito 'raposa velha', tudo ali, muito no obvio e ao mesmo tempo nada, só suposição (quando crescesse queria ser como ele).

Tudo era sugestionado, ele me deixava pensar que eu controlava, que as idéias eram minhas, quando tudo já estava friamente calculado. O chato era já saber disso, se eu fosse mais boboquinha estaria em nuvens até agora.

Mas realmente... na hora, fiquei boboquinha. Chamo a todos de moça e moço sempre, e como chamaria aquele cidadão que tinha idade pra ser meu pai de 'moço'? Não consegui chamar de 'você', nem de 'senhor’... apelei pro 'tu'.

Mas sabe, nem precisei falar muita coisa não, primeiro que a dor da extração não deixava segundo que não senti necessidade. Ele sabia. Parecia saber de tudo, como se tivessem dado um livro da anatomia geral da mulher que ele lia desde que se alfabetizou.

Levei umas musicas muito apropriadas que deram um toque e serviram de guia, junto com uma batida que ele preparou. De inicio ele colocou as mãos em concha e fez movimentos circulares com o polegar por toda a extensão da coluna, estava frio e eu só usava calça jeans, mas nem liguei afinal um cara que acha um dos meus pontos G assim, de cara, merecia credito e silencio de minha parte, as mãos caminharam, a coisa foi fluindo e fiquei com gosto de batida.

Só aquilo já valeria pra mim, mas ele continuava, e ficou fazendo massagens por um tempo considerável - talvez esperando o efeito da bilha azul- e eu toda mole, quase babando... brincadeira ta.

Bem, depois dessa massagem toda, começaram os trabalhos, tudo ao meu comando, e era interessante ter um 'tio' assim, fazendo o que eu mandava, mesmo que fossem vontades dele.

Como já disse, era um ser suavissimo, doce... salgado, um querido,

Daquelas pessoas raras que se doam que se entregam mesmo e você vê isso no olhar, sente que cada gota de suor daquele corpo é pra/por você, cada gemido é único e não se repetirá com outra do mesmo modo.

Não havia rudeza nos gestos daquele homem, isso eu acho que ele deixou marcado nas torturas que possivelmente fez. Só havia sossego, uma sensação de água bem gelada num dia de muito calor (ta, péssimas analogias, eu sei), ele conseguia ser gentil até sendo sacana. Conseguia dar o tapa, ficar de joelhos, trazer comidinha na cama depois e sem levar nem um oral (não, ele não pediu, foi solidário a minha dor)!

Resumindo o cara era bom, era uma dama na cama, uma dama safada, eu diria, mas ainda assim uma dama. Tive o imenso prazer de compartilhar aqueles dias com ele, aprendi muitas coisas, desenvolvi outras, ele descobriu umas novidades e levaremos isso pra vida, mais uma alma afim que eu tive a sorte de encontrar. Fim da historia. Afinal ele podia ser perfeito... mas já foi policial.

Brincadeira, foi muito bom mesmo do jeito que foi, vou lembrar pra sempre, sem mais.


*quanto ao titulo...bom...lembra das aulas de química? vai nessa linha...

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