domingo, dezembro 20, 2009

Aos moços (Pra não falar que não falei dos androceus¹)

Só um brinde!

Aos rapazes da infância, da minha inocência - dos beijos estranhos e sem malicia.

Aos carinhas do colégio, idiotas e infantis em sua maioria.

À pequena minoria nada infantil e bem espertinha.

Ao primeiro namoradinho e às mãos dadas ao qual devo a boneca largada.

Ao beijão no ginásio. Aos muros e pracinhas.

À fuga sempre que minha mãe surgia do nada.

Às ‘verdade ou conseqüência’ ao longo desses anos.

Aos feinhos, muito feinhos mesmo, mas cheios de ternura. [quem não teve?]

Aos príncipes tão lindos como nos contos - superficiais e burros no real.

Aos amigões do peito, que só ficaram nisso mesmo.

Aos que viraram amizades coloridas.

Aos que eu mesmo gostando, pus meninas “na fita”.

Aos que tinham tudo pra ser… mas sei lá porque, nunca foram.

Aos Bv’s que aprenderam rápido. Aos experientes que nunca entenderão.

Aos que nunca perceberam, aos que perceberam e os que eu nunca quis ver.

As colas, os testes de revista, os joguinhos de amor.

As sonecas inocentes juntinhos.

Aos pegas no escuro, e que sempre serão claríssimos na minha mente.

As indiretas, incertezas, as muito diretas, as cócegas no meio da mão, ao olho aberto, ao ciúme, as outras gatinhas, a mão dada, ao cinema… ai ai, o recreio, o dia do passeio… a piscina.

Ao fundo do ônibus.

Aos shows. À noite, a rua vazia. O ponto de ônibus. A porta de casa.

Aos mais ou menos, grandes caras!

Aos nerds interessantes, os burrinhos engraçados, aos lerdos. Aos pagodeiros gostosinhos!

Ao “Te encontro na saída”.

Aos galinhas e ao meu medo de pegar herpes [ainda tenho esse medo viu]

Aos hippies, e grunges, emos [fases gente, fases…] e o pessoal do funk.

Aos rapazes da roça, meus meninos da terra [minhocas]

Aos muitos e muitos e muitos beijos roubados.

As brigas, decepções e dramas. As bicicletas no portão.

Ao chiclete sempre no bolso. Aos doces… ao gosto amargo do TNT² que era sadicamente dividido. O beijinho na igreja. Ao tombo na frente dele [mico nosso de cada dia]

Ao “Pera, que eu te levo” ou “Vou contigo” ou “Também já to indo…”

Aos amassos… ui ui.

Aos porres, as noites, aos dias, as manhãs. A escova dividida.

Aos carentes, aos bebês, aos jovens senhores, ao pé na cova.

As cantadas ridículas, as boas, as infalíveis.

Aos gays enrustidos, aos bis declarados.

As camas. Aos pés quentes, aos frios com meias, ao devorar da boca.

As manchas ruins de sair. Aff.

Aos prazeres… e risos. Aos gemidos. Aos que chegaram lá. E aos que eu nunca quis levar. [Mu ah ah ah]

Aos que sempre me lembro. Inesquecíveis.

Aos que nem sei mais o nome, nem rosto, aos invisíveis.

Aos bons e velhos. Aos novos. Aos da net. Aos mocinhos das festinhas. aos que ainda conhecerei.

Aos que ainda vou pegar. Aos que se enganam. Aos que tem certeza e que ainda assim se enganam. Aos sinceros, falsos, mentirosos.

Aos que ligaram, aos cretinos.

Aos bonzinhos, aos cornos. Aos que me traíram aos que são pra casar. Aos pestes e demônios.

Aos tentações, e pedaços de mau caminho. Aos pedacinhos do céu.

Aos pães de mel, chuchus, safados, doidos, cafonas, benzinhos, aos tudão… humpf

Enfim… para todos os moços, todos sem distinção, todos com os quais já ri. E pelos quais também chorei [eu e tantas outras…] ou fiz chorar.

Para o moço em mim também. Apenas um brinde.



¹ > parte masculina da flor, sendo a feminina o gineceu. Aprende-se isso na quinta serie! Flores transam meus caros!

²>TNT alguém lembra? Era um chiclete [ou era bala?] amargo pácacete, muito ruim.. mas muito bom. E deixava a língua verde ou sei lá de que cor.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Os desacontecimentos

Há dias em que dormir é o melhor a fazer, não adianta tentar, qualquer coisa dará em nada. O cansaço toma conta, a preguiça, a monotonia, os amigos estão chatos, sem assunto, o MSN, embora cheio, está parado. Tudo está parado.
É como dar um pause no filme e sair...sair pra fazer sei lá o que, ai você esquece lá; e ele sai do pause e entra em espera maior... STOP. E assim fica até que você volte e veja que deixou tudo ligado. Isso! É como se fosse um standby. Demorei mas a linha veio....
Bom..assim estou. à espera. de que? nem sei meu caro. Talvez de alguém, de algo.
Talvez de mim.

Pra outro Maria agora (D.F.N)

Conheci um moço. Bem… conhecer não seria a palavra. Porque na verdade nunca o vi.
Temos um único amigo em comum, o Gibs; que nem nos apresentou, pois um dos dois, já não se sabe quem, entrou no Orkut do outro. Daí um dos dois puxou assunto, deve ter sido eu, já que ele não é afeito a essas coisas. Gostei do rapaz, era engraçado, inteligente e estranhamente era como eu. Eu sou curiosa, tinha que saber mais daquele cidadão.
Trocamos alguns recados, em menos de duas semanas estávamos desafiando um ao outro, provocando - uma espécie de zoação mutua. Eu disse que ia arrancar-lhe os órgãos e vender pra máfia e que era uma psicopata, e que ia jogá-lo num rio. Ele dizia que eu não era de nada e que ia acabar comigo, que ia me torturar, pois era um sádico louco em dias pares. Enfim, bobagens, como ele mesmo disse um dia. Não sou delicada com ele, nem ele o é. Na verdade, não somos assim com ninguém. Adivinhamos pensamentos, lemos mentes, e sabemos pontos fracos. Não seriamos bons inimigos, seria chato e previsível.
Somos previsíveis é verdade, mas o que eu achei que seria algo ruim acabou sendo a coisa mais interessante desse garoto. É engraçado pensar que tem alguém assim, quase tão igual, com mesmas idéias, e pontos de vista. Mas já tem um texto assim, enfim. Ele faz coisas que sabe que eu detesto, só pra provocar, consegue às vezes, tenho que reconhecer… mas nem é nada demais.
Fala umas coisas absurdas, historias estranhas… ele dorme com gatos dos vizinhos!Ou melhor.. como ele mesmo diz, os gatos vem dormir com ele. Gritou meu nome prum gato molhado de chuva na rua, não sabe reproduzir onomatopéias e nem entende minhas gírias idosas. Mas ele adora minhas comus, o que é bom… porque elas refletem boa parte do que é difícil expressar. Minha dificuldade de conversar por MSN quase desaparece com ele, ele me entende, até quando eu mesma não me faço entender. A primeira pessoa com quem falo de astrologia, religião, musica sem entrar em conflito. Minha dama gosta dele, o que é bom porque se ela, antissosocial que é, gostou, ele não deve ser ruim; fora que ela geraria conflitos. É um mocinho bacana, me faz rir, de mim mesma e das bobagens que lhe digo como o fato de eu parecer um ciclope caolho.
Um dia a gente vai se esbarrar, ele vai gritar meu nome pra que alguns possam ouvir… e eu morra de vergonha; e se eu decidir não correr para matá-lo, vou ganhar um abraço que imagino ser muito bom. Temos alguns programas marcados desde sempre, e que pretendo realizar todos. Sei que deve ter ficado muita coisa aí a permear-lhes as cabeças, algumas considerações implícitas, mas é só o que posso dizer, visto que o resto, ainda não foi bem escrito e nem a mim foi revelado.
Só sei que seria um bom amigo se lhe tivesse conhecido antes… Seria? Não, pode ser ainda! Então fica a pergunta: QUER SER MEU AMIGUINHO ELEMENTAR MARIA¹?

¹- bom...é assim que o chamo, por motivos bestas.


OBS>(sei que ele vai pensar, assim como eu antes de escrever isso:"Amigos? sei não. Nem te conheço!" Estou levando isso em consideração...acredite, pois meus pés são atrás sempre. Foi só porque voce disse que eu nunca reconheço, viu! mas talvez ele diga que sim...só pra me sacanear novamente. ai ai )

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Cor de Canela

A porta do metrô se abriu. Entrei. E mais uma vez lá estava ela. Pernas cruzadas, cabelo solto e all star. Uma mochila cheia de bichinhos e flores que levava perto do corpo. Olhava, observava todos ao redor, sem encarar ninguém, se bem que todos ali faziam isso.

Pude ver suas unhas… hoje era outra cor. Todos de algum modo olhavam suas unhas, eram grandes, bem feitas e coloridas. Notei depois de um tempo que as cores pertenciam a uma pulseira que ela sempre usava. Eram as cores do arco-íris. Hoje era laranja. Era um belo contraste e ela sabia.

Também tinha um piercing, não sei exatamente onde, não era na língua, mas era dentro da boca. Usava brincos diferentes em cada furo. Tinha 6 furos até certo tempo, agora são 8. Todos também coloridos.

Ela lia bastante e rápido. Poesias, épicos, romances, crônicas e tinha um que sempre voltava a ler vez ou outra… O Pequeno Príncipe. Lia o horóscopo também… e sempre dava um risinho depois, como se desacreditasse.

Às vezes ela só olhava pra fora, para as janelas e esboçava o que deveria ser um sorriso lindo, mas ai lembrava-se de onde estava e parava. Tinha um riso debochado. Daqueles que riem até das desgraças. Nunca conversava com ninguém, exceto as velhinhas, que lhe contavam suas vidas e dores, e que ela ouvia com atenção.

Às vezes alguém despertava seu olhar e ela mantinha-se atenta a pessoa, de uma maneira fria e analítica. Como que um gato olhando o barbante que balança.

Hoje fazia um sol bom, ela estava com uma blusa leve e discreta que denunciava o sutiã rosa de bolinhas. Ela tinha um tom de canela e no sol parecia incandescente. Ela não ia muito à praia, não tinha marcas. Mas tinha o tom, aquele tom de quem mora bem na beira do mar.

O perfume era forte, intenso, mas não ficava no ar.

Agora ela me encara, tal qual um gato. Devo tê-la olhado demais. Ela ri da minha vergonha. Até podia ir falar algo. Ela não ia repudiar. Mas não, resolvo descer. Minha estação.


Pra minha Maria

De todo o amor que eu tenho
Metade foi tu que me deu
Salvando minh`alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu

Se queres partir ir embora
Me olha da onde estiver
Que eu vou te mostrar que eu to pronta
Me colha madura do pé

Salve, salve essa nega
Que axé ela tem
Te carrego no colo e te dou minha mão
Minha vida depende só do teu encanto
Cila pode ir tranquila
Teu rebanho tá pronto


Teu olho que brilha e não para
Tuas mãos de fazer tudo e até
A vida que chamo de minha
Neguinha, te encontro na fé

Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Diaxo, ele tem que querer

Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for

O fardo pesado que levas
Desagua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim



[letra da musica Dona Cila, da minha amada Gadú]

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Dia da Noiva

É domingo, exatamente 03h00min da tarde. O sol entra por uma fresta da janela.

Foi isso que me acordou. A cortina clara não bloqueia toda aquela luz.

—Tenho que trocar essas cortinas… - resmungo enquanto me sento na cama

Ainda sentada relembro os acontecimentos de ontem… hum… fui à Paula, dancei um pouco… bebi e saí cedo de lá.

—Só isso?Fui numa festa e foi só isso?

Jogo o lençol pra lá e levanto da cama, tô só de calcinha e meu cabelo está embolado, procuro um relógio, meu celular, minhas chaves.

—Cadê minhas chaves?

Era uma pergunta, eu sei, mas eu não esperava resposta. Mas estranho… uma voz vinda do banheiro pergunta “o que?”. ”O que” me pergunto eu!

Desperto do meu sono, da minha calma e corro na direção da voz.

Tem um cara no meu chuveiro! Tem um cara tomando banho. Na minha casa!Tem um cara nu!Na minha casa!

—Oi! Como você dorme hein… ia te chamar, mas fiquei com pena.

—Hã? O que?

Estava num efeito de emburrecimento… só conseguia repetir “o que”.

—Entra aqui. - ele dizia enquanto usava meu gel de banho

Ele entra debaixo da água e fica um bom tempo ali. Eu dou uma ligeira olhada nele. Até que não é dos maus. Quando percebo ele tá olhando pra mim,com uma cara interrogativa.

—Já tinha reparado que você é observadora

—Ah… vou pegar uma toalha. - digo e me viro.

Saio dali pensando no que vou fazer. Pra quem vou ligar? O que vou dizer pra ele?

“Oi, quem é você e o que faz aqui?” Não me parece uma boa pergunta… Alias, é bem obvio… devo ter enchido a cara… e trouxe esse homem pra cá. Mas eu não me lembro de nada disso!Que droga!E o nome dele?

—Escuta… você não ia pegar a toalha? - ele diz rindo da porta

—Ah… claro… está aqui. - digo indo na direção dele.

Ele pega a toalha. E me puxa e me da um beijo no rosto e começa a beijar meu pescoço. Ele tá com cheiro de maracujá.É do gel de banho.E a gente fica ali…assim. E eu já tô abraçando ele…

—A água tava ótima. - diz rindo

Porque ele ta rindo? O que tem tanta graça?

—o que foi?

—Nada... Posso me secar?

—uh!Desculpa. Pode claro. - falo me afastando - Ham… só um segundo.

Preciso pensar, preciso sair daqui. Preciso fazer xixi! Entro no banheiro. O único lugar isolado onde eu posso pensar com calma.Calma.Olho pro meu reflexo.Dormi maquilada,mas estou bem…Eita,o xixi! Escuto uns barulhos lá fora. Que será que ele está fazendo? Volto ao espelho. Tenho que encarar. Lembrar quem ele é e esquecer depois. Quando sinto que estou calma resolvo sair.

Ele está se arrumando. Mas peraí, ele não pode ir assim. Eu preciso saber quem ele é!

—Você já vai?

—Pensei que você fosse tomar banho… vai ficar assim? - diz me olhando de cima a baixo

Só aí me dou conta de que estou seminua na frente dele. Me enrolo no lençol.Nunca fui do tipo que se enrola ou se cobre pra sair da cama.Mas hoje é diferente.Ele ri de novo.Porra,ele só sabe rir?Porque ele não fala algo sobre ele ou pelo menos faz sei lá, qualquer outra coisa. Desisto de ficar de lençol. Pareço uma idiota. Afinal não é novidade pra ele.Ele calça meus chinelos de dedo, abre a porta e sai.Sem chance de eu dizer nada.E ainda por cima com os meus chinelos!

Vou tomar banho, preciso. Quando sair ligo pra Paula e pergunto o que houve.

A água esta ótima. Demoro bastante. Lavo a cabeça. Fico mais um tempo.Saio.

—Caramba!Cadê minha toalha? - sai mais alto que o esperado

—Peraí! Eu pego! - vem a voz lá de fora

Porra! Já ta ficando esquisito. Tenho mania de falar sozinha. É normal. Mas começar a ter respostas é novidade pra mim.Então ele voltou…mas pra que? Ele entra sem bater… puxa a porta do box e me entrega.E sai sem falar nada.

Me seco. E percebo que não peguei roupa. Porque que eu não trouxe a roupa pro banheiro?

Bem, eu estava só, achava que estava. Podia sair pelada e me vestir lá fora como sempre. O jeito é sair, e se trocar. Saio do banheiro e de inicio não o vejo.Deve ter ido embora.Pego um blusão e visto.

Vou pra cozinha ainda secando os cabelos. Dou de cara com ele. Hmmm ele ainda tá aqui… Tá tomando suco. Fica me olhando, o bocó.Eu sento de frente pra ele.Vejo ele enchendo o copo de novo.E comendo amendoim.

—Você quer?

—Não obrigada.

Gosto de ver as pessoas comerem, só ver. E alem do mais, nunca aceito amendoim de estranhos. Onde ele achou amendoim?

—Pedi almoço. Pra gente.

—Hã?Ata. Onde?

—Bom, no Nino’s aqui embaixo. E lá tinha amendoim, comprei… ah! E Fanta pra você.

Então foi lá que ele arrumou amendoim. Sabia que não tinha em casa.

—hum… Fanta… uva?

—Claro!Pus no congelador. A comida já deve estar chegando.

—é… deve sim…

Nem me dou conta. Estou faminta. Depois da comida eu ataco. Vou descobrir tudo o que aconteceu.Quem é esse cara.E como ele sabe que eu gosto de Fanta.Toca a campainha.Eu pulo e vou atender.Era do Nino’s. E já estava pago.É lasanha…está ótima.Comemos quase sem nos falar.Eu paro as vezes pra observar como ele come.Ele ensaia com a comida,fica passeando com o garfo e demora a comer.É cheio dos modos pra comer.É bem chato.Quando ele acaba pega meu prato e vai lavar.

—Deixa aí, depois eu lavo…

—Tudo bem… sem problema. - e continua lavando

Começa a me dar uma preguiça… vontade de descansar o almoço. Jogo-me no sofá. Aperto o play do rádio. Toca I get lost do Clapton.Ponho pra repetir.E vou relaxando no sofá.Que sofá bom…ele abraça a gente.Me sinto bem,leve,quase que flutuando.Epa!Eu estou!Abro os olhos. Estou nos braços dele. Penso em falar alguma coisa. Me desce!Mas já estou fechando os olhos de novo. Sinto um macio bom. É a minha cama. Tudo apaga.Ouço bem longe o Clapton.E depois nada.

—Descansa… - alguém diz, parece a voz da minha mãe, do meu avô, nem sei.

Abro os olhos. Meu quarto tá um breu. Na minha frente tem uma coisa cantando e piscando. É o celular.É a Paula.

—pronto.

—Oi doida. Como você tá? Saiu ontem carregada…

—aff, nem fala… tive um sonho estranho… Você me acordou!

—o Fell tai?

—nem sei. Você me acordou!

—Vâmo levantar que é hora de sair.

—que horas são?

—21h21min

A Paula sempre fala assim. Nunca diz 9h21. Dormi o dia todo. A festa de ontem estava boa.

Cheguei em casa às 5h. Vou fazer xixi.Entro no banheiro.O Fellipe tá tomando banho.

—Boa noite pinguça!

—Ah num enche! - eu digo enquanto lavo as mãos.

—Entra aqui.

Tiro meu blusão e o elástico do cabelo. Entro. Ele me dá um beijo. Tem gosto de vinho.Ou será que sou eu? Fica um pouco comigo e sai pra se arrumar. Termino o banho e me arrumo rápido.

Hoje eu não posso atrasar. Saímos à pé. A Paula mora na mesma rua. Ontem foi a despedida de solteiro e hoje abriremos os presentes e vamos fazer outra festa.Ela foi minha madrinha.Há dois anos.E agora é a vez dela.

Chegamos. Ela esta na porta. Me agarra.Ela esta nervosa.Daqui a dois dias,estará casada.

É natural. Lembro do meu sonho. Tenho vontade de contar pra ela. Mas não agora,não hoje.

É o dia dela, a noite dela.

Jéssica e Pâmella

Tudo começa quando o casal Moura, sem filhos até então, descobrem-se grávidos. Eram tempos difíceis e mais uma boca para alimentar naquelas condições seria um problema.
Pensaram, pensaram e resolveram ter o bebê. Porque essa devia ser a vontade de Deus.
Foram ao médico, primeira e ultima consulta que o dinheiro poderia pagar.
Lá se descobre que daquela mulher pobre e cansada, nasceriam duas crianças. Um desespero tomou conta do casal, não estavam felizes pela descoberta. Não. Isso significava mais trabalho, mais luta e menos comida. Como iam fazer com duas crianças em casa? A mulher também trabalhava na lavoura e não podia se dar ao luxo de ficar e cuidar de filhos. Não. Porque Deus? eles se perguntavam a cada dia que passava.
E assim num dia de sol quente, a mulher estava a descascar batatas quando sentiu dores, dores que nunca sentira. E para o desespero do pai, nasceram duas meninas. O pobre queria meninos, para que lhe ajudassem na colheita.
Por fim resolveram criar as duas. Dar-lhes a melhor educação que pudessem, para que não passassem pelo sofrimento de seus pais.
Mudaram-se para a cidade. Ela virou cozinheira e ele porteiro. Tudo por elas. Moravam numa casa simples, mas que comparada à antiga era um palácio. E elas cresceram ali, sem maiores problemas.
Época de colégio foram matricular, o preço era absurdo. Não sabiam que o ensino era tão caro. Matricularam apenas uma. Era o que dava, fazendo-se um esforço e apertando os poucos gastos. Mas e o que fazer com a outra? Ela não pode ficar sem estudar! Foram a uma escola do governo e lá depois de alguns papéis, a outra também ingressara na vida estudantil.
Mas que injustiça, vieram pensando no caminho. Nada falaram. Mas o sentimento corroia-lhes o coração. Chegando em casa, olharam suas filhas e se olharam e ali, entraram em comum acordo. Um acordo mudo. Mas que não necessitava de mais explicações.
No primeiro dia cada uma foi para seu respectivo colégio. No segundo dia, cada uma foi para o colégio da outra. Nunca deveriam dizer seus nomes de verdade no colégio da outra e nem que eram gêmeas. e assim foi, durante todos os anos. Chegavam em casa, trocavam matérias, estudavam juntas e eram sempre as primeiras da classe. Diferenças eram notadas entre os professores -uma era tímida e a outra era sempre o centro de tudo- mas nada que a fase não justificasse.
Cresceram inteligentes e iguais por fora. Por dentro eram absolutamente diferentes. Tudo começou na fase dos namoros, cada uma apaixonada pelo garoto do colégio da irmã. E como explicar ao infeliz que ela só gostava dele dia sim dia não? Era uma guerra, queriam ficar de vez no lugar da outra, mas os pais nunca permitiram. Não podiam levar visitas sem avisar, porque a outra tinha que se esconder durante toda aquela hora. Às vezes uma era vista com um rapaz e logo em seguida passava com outro. os vizinhos nunca entendiam e davam-na por moça perdida.
Isso durou por toda a adolescência, ate que se formaram. E aí puderam aparecer para todos. As duas juntas. Se apresentar com seus nomes. E poder se apaixonar e viver suas vidas normalmente.
Seus pais estavam orgulhosos, tanto sacrifício, tanta luta, agora davam resultados. Colhiam os louros de todo aquele esforço. Tudo por elas.

Cremosinha

Dizem que família não se escolhe. E que para escolher, tem os amigos. Não comigo. Nem os amigos eu posso me dar ao luxo de escolher. Ta, não to falando de se meter com gente errada, digo de ter amigos sem nenhum ponto em comum.
Conheci na escola uma de minhas boas amigas. Digamos que ela era tudo contra o qual eu sempre lutei e evitei. Parecia estar escrito na testa dela a palavra funk.
Aquele visual sempre me deu nos nervos, as calças coladas e cheias de glitter, os acessórios medonhos, os saltos de cristal, as muitas camadas de blush que a faziam parecer um palhaço, os tops, era tanta coisa! Tanta informação. uma overdose.
Ela falava engraçado… certas palavras como comendo e falando não tinham d. Eu tentava corrigir, mas ela nem ligava, nem se irritava. O pior era o cabelo, cheio, entupido de creme. Comecei a chamá-la de cremosinha. Levava consigo uma toalhinha, daquelas de trocador de ônibus, que usava para enxugar as costas e ombros melecados de creme. Falando assim nem parece minha amiga, eu sei.
No começo eu fazia pra irritar, pra ver se ela saia de perto, se percebia que eu não tava muito bem com ela. Mas ela era tão meiga, tão bacana e sem noção que nem percebia. Por fim acabei me acostumando com tudo aquilo. Até ajudava ela a tirar o creme que ficava na orelha.
Ajudei com alguns erros mais graves, ela parou de usar as sandálias medonhas. As roupas ainda são muito justas, mas o cabelo melhorou e ela largou o creme.
Percebi que era uma pessoa maravilhosa, tinha uma alma incrível e até aprendi algumas coisas. Criamos um laço importante, percebi com o tempo, que assim como era difícil pra mim, também não era a maior maravilha do mundo ter uma amiga grunge do lado pra ela. A gente aprendeu primeiro a se tolerar, depois nos respeitamos e assim formamos uma grande amizade. Mas sacana que sou ainda zombo das bolas de blush que ela faz. Então fica o apelo… amiga, tira essa coisa, blush é cafona!
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