sexta-feira, novembro 27, 2009

Maravilha

Fui passar uns dias na roça. Vou pra lá desde criança e desde essa época, fiz muitos amigos. Um deles foi o Tomaz, que tinha esse nome por causa do santo. Nunca soube que santo era esse, nunca nem perguntei a ele. É um menino tranqüilo, gosta de cavalos e de nadar nos rios, cuida dos bois, ama seus pais e acha que Orkut é algum iogurte.

Tomaz e eu tínhamos uma boa amizade, eu lhe contava da minha vida na cidade e ele me falava de seu trabalho, que era também a sua vida. Não preenchia de detalhes, contava só o necessário. Já ele contava cada detalhe… dos animais, do campo, das plantas, das galinhas… e eu o ouvia com todo interesse. Adorava saber de sua vida, adorava aquelas historias, adorava os animais, o campo, as plantas, as galinhas dele. Adorava ele.

Tinha a fala mansa, tranqüila, sem pressa, de quem tem tudo o que o quer e que precisa. Tinha um olhar humilde, curioso das coisas e deslumbrado. O vento batia e ele olhava e sorria feliz para o céu, apreciando a sua natureza, que era o que tinha de melhor no mundo.

E eu lá olhando aquele moço que não era o melhor do mundo, mas era tudo que eu queria e tudo que precisava naquele momento. Fazia-me esquecer dos meus problemas, estando com ele eu sentia que todos eram fúteis. Que era tudo ninharia. E isso era bom.

Nunca tive interesse nele, pra mim era só o menino que cresceu comigo. Mas ali naquele momento eu senti que precisava dele, que tinha que sentir com ele toda aquela maravilha.

Um beijo. Rápido, lento e que não foi rejeitado. Estranho e inesperado. Senti certo arrependimento, agi sem pensar – eu disse a ele.

Ele se manteve em silencio e quando falou, foi de uma simplicidade tal que minhas palavras morreram na boca. Disse que sempre teve vontade, que só não tinha feito porque achou que eu não queria. E que esperava mais de mim. A gente se olhou e se riu. Lancei o galho na minha mão e ainda assisti sua trajetória. Silencio. Um riso. Um olhar.

E assim passei o resto da tarde, no campo. Maravilhada.

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