quarta-feira, janeiro 27, 2010

Ah meu amor, faz tanto tempo… tanto nós já vivemos desde aquele dia…
Se me perguntassem qual o dia mais feliz da minha vida, eu diria que foi aquela quinta-feira, sem duvida, pois foi quando eu te conheci, quando olhei nos seus olhos e me segurei pra não rir. Lembra? Você tinha caído. e caiu tão estranho, dançou no ar, tentou um equilíbrio..mas não tinha jeito, a queda era eminente. Enquanto todos riam, inclusive você, que xingava os sapatos e dizia que pelo menos do chão não passaria. Corri pra ajudar nem sei por que, já que você não parecia precisar de muita ajuda.. e foi o que deixou bem claro assim que estendi minha mão.
Foi tão estúpida, e eu estava só tentando ajudar. Até com isso eu me acostumei.
Sai dali pensando que nunca mais ajudaria você, nem que me implorasse, que besta! Eu querendo ajudar e você me veio com quatro pedras na mão. Nunca mais, eu disse.
O sinal tocou, entrei na sala.. aula normal e chata.mas eu não conseguia esquecer a moça mais mal agradecida que eu já vira. Fui pra casa, comi e subi pro meu quarto pensando em você.
Nem sabia o teu nome, embora te visse todos os dias. Estudava na sala ao lado e eu sempre te via rir, ouvia teu riso alto e as broncas que tomava, mas não ligava. Era tão doida, andava com os moleques mais terríveis e não era bem vista pelas meninas da turma. Mas nem parecia ligar pra isso, não parecia ligar pra nada. Comecei a te notar, prestar atenção em você, pra tentar descobrir teu nome. Mas só te chamavam de pimenta, até que um dia os diários da turma foram trocados e como eu fazia a chamada… peguei e anotei todos os nomes que ali estavam. Sei que não eram grandes coisas… fui pra casa imaginando qual deles seria o seu… será que era Maria Fernanda? Ou Lurdes? Ana? Lucia? Não você não tinha cara de ter esses nomes, tudo em você era especial, era diferente.
Fui aos poucos ligando os nomes as garotas, faltavam uns 5 no final eu estava cada vez mais perto. Saber o teu nome tinha tomado muito tempo do meu recreio: não ia ao futebol, ficava sentado com os professores ou com as meninas, tudo por você.
E você lá, com seus amigos, jogando, correndo, empurrando as pessoas, nada delicada.
Depois de uma semana sem sucesso, porque duas alunas faltaram, eu resolvi perguntar a você, o seu nome. Não fazia idéia do que ia dizer, nem que explicação daria, mas tinha cansado daquilo, era chato e não estava progredindo.
Esperei ate que seus amigos estranhos saíssem de perto e me aproximei. Você tava distraída e só percebeu quando eu já estava do seu lado. Olhou-me e riu. Eu tremia tanto, tava nervoso e a sua atitude me deixou pior, não conseguia nem falar.
Até que você se virou e ficou bem de frente pra mim, era da minha altura, e perguntou meu nome. Eu disse. Você riu novamente. E perguntou se eu não queria saber o seu. Eu tremi e disse que sim, você me falou e eu sorri. Era diferente, era especial e nem estava na minha lista.
Eu fiquei tanto tempo parado e quieto que você resolveu ir embora. Eu fui atrás e te puxei. Mas foi tão brusco e mal calculado… que você ficou bem perto de mim quando virou. E te beijei. Ah… tudo isso eu lembro. Ali eu já te amava, tinha certeza. você me encarou por um segundos..eu achei que ia me bater..mas você sorriu e entrou pra sala.
Fui pra casa rindo que nem bobo, e fiquei contando os dias pra segunda-feira chegar.
Depois foi tudo estranho, você me olhou e me beijou num canto escondido. E nada falava nada. e saia…e isso se repetiu ate o fim do ano.
Na formatura eu perguntei pra onde iria e novamente você riu. Deu-me o telefone e o beijo mais quente da minha vida. A gente não foi pra mesma escola, mas eu queria te ver. E marquei. E fui e você atrasou.. até pensei que nem vinha. Chegou rindo… como se nada houvesse. E me beijou e eu esqueci tudo. Nossos encontros eram monólogos.. eu falava e falava e você respondia as vezes, mas sempre ria. Cheguei a achar que você tinha deficiência mental. Até que um dia você chegou e perguntou quanto tempo mais ia demorar pra te pedir em namoro. Ah… eu quase pulei de alegria aquele dia. Namoramos e nos formamos. Fomos pra faculdade. Era minha primeira namorada… o meu doce desconhecida. odiava as flores que eu levava. Odiava os bombons, mas amou as musicas.
E assim.. sem saber nada…a gente casou, numa praia.
os anos correram e nem me dei conta.Tivemos três filhos. E muitos netos, todos com a sua independência e com o meu nariz.
Eu estou aqui do teu lado. Nessa cama. Você me olha bem no fundo dos olhos… o sol te incomoda à vista.. mas você nem reclama. Foi uma noite longa… ninguém dormiu. Vira-se e diz que quer descansar… se sente fraca. Passo a mão pelos teus cabelos tão finos e macios. Você sorri. Não tinha ninguém melhor pra mim nesse mundo, eu te digo. Nem nesse nem em outro.
Pergunto se precisa de alguma coisa, um remédio… e você diz que não quer nada e que se quiser que levanta e pega. Estúpida. Diz que já vai passar, que ta tudo bem. Mas eu sei que não tá. eu passei a noite acordado com ela. Resolvo ir pegar um suco. Quando chego perto da porta ela me chama.
-chega aqui meu velho.
-que foi pimenta?
-acho bom ligar pro medico.
-por quê? Ta se sentindo mal? Ta doendo alguma coisa?
-não.. eu estou bem..já disse…
-então.. que foi?
-ele tem que suspender esses remédios… não sei se ainda agüento seus orgasmos múltiplos e os meus.. nessa idade.hahaha..desse vez tu me destruiu! Que noite! Agora me deixa dormir.

Dou-te um beijo e saio pra pegar o suco. Tal qual o vinho.. o nosso amor, os beijos e o sexo…tudo ficou melhor com a idade. Amo-te.
c'est fini

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