sábado, abril 24, 2010

dia 23

Ele veio me olhando de um jeito… aquele jeito sabe… como quem despe a pessoa da roupa, do sapato.. da alma. Ele veio.. me olhando.

Veio olhando e parou. Parou abruptamente como se tivesse tomado um susto.. uma surpresa. E ai continuou… riu. Melhor.. Ele sorriu de deboche, de mim e da minha expressão de pavor. Não era pavor… era duvida, eu não sabia o que ele pretendia.. o que ia fazer comigo.

Fiquei nessa duvida uns 4 dias.. desde que ele me avisara para não marcar nada pra quinta-feira, que o dia ia ser dele, que eu ia ser dele. E quando perguntei como assim, do que ele falava ou o que tinha em mente, ele fez uma pausa e deu um suspiro.

Ele vinha me olhando, o olhar era diferente, a voz ao telefone era diferente, ele era diferente, não estava doce com sempre, nem com o mesmo cheiro, ou seja, não era ele. E se fosse, era o seu lado obscuro, a fera presa em si. Onde ela esteve todo esse tempo? Às vezes penso tê-la visto, mas bem rápido, sem que desse para notar muita coisa.

Enfim.. ele ainda estava vindo..na verdade só estava parado me olhando, analisando e talvez pensando por onde começar. Ele estava parado, mas seus olhos.. desciam e subiam..passeando, cobiçosos de coisas novas. Seus olhos sim estavam bem perto. Mas ai ele recuou, virou-se, pegou seu copo e bebeu numa só, também.. faltava pouco pra acabar. Bebeu me olhando, como se eu fosse o copo, o copo e a bebida… senti que desci quente. Quente e doce. - vou beber você boneca –, ele não disse, mas nem precisou.

Vi seus olhos se apertando enquanto enchia novamente o copo. Deu-me, não bebi. Eu disse que estava legal. - vai ficar melhor -, isso ele disse, mas não precisava.

Silencio meu, engoli a seco com farinha como dizem por ai. Ele ainda achando graça… ai eu cansei daquilo, de ficar só olhando, de ser só olhada, do divertimento a distancia dele. Cansei. Ele percebeu, era sua idéia desde o inicio.. ver-me assim com um bicho encurralado, esperaria o tempo que fosse, quanto tempo eu resistiria para estar com ele. Para senti-lo. Mas ai já era tarde, ele esperou demais. Cansou-me e me desesperou. Quando eu fui já nem era eu. Era a fera, fera que ao contrario dele, eu nunca escondi. Ele já a conhecia muito bem. Fui na direção dele… olhando… como se fosse meu prato favorito, como se a batalha já estivesse perdida pra ele. Sem dó. E ele que antes tinha feições seguras, agora era a vitima, e seu olhar. Seu olhar já não tinha aquela superioridade, não tinha mistério, ele estava ali pra mim, em minhas mãos. Sem saída. E no seu olhar agora eu via. Via medo e uma curiosidade gostosa, como quem pula sabendo o que tem lá embaixo. E eu fui… e foi… enfim… essas coisas de romance pornô barato.

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