quinta-feira, junho 16, 2011

Olhos azuis

Olhando pro espelho, fui revendo os traços, a forma, as expressões. Toda a historia contada nas pequenas rugas que serão, daqui algum tempo, caminhos perfeitos para lágrimas.
Sabe aquelas lágrimas de idoso?...Então, terei o olhar molhado.
Meus olhos possivelmente ficarão azuis, como os de meu avô, como
Os muito velhos da família. E neles a cegueira e a morte vão disputar, pra ver quem alcançará primeiro.
Desço o olhar pelo tronco.. ah meus seios...onde será que vão parar? Ficarão enormes como os de minha avó? Talvez permaneçam onde estão como balões de festa. Minha barriga, essa sim sofrerá alterações, coitada, depois dos filhos, operações, filhos, operações, quedas, exercícios tardios... enfim...deixa a barriga. Que ela não crie dobras como as das crianças, só isso.
Minhas pernas, tão esguias, lembro de quando eram finas! Ainda bem que a puberdade as deu formas dignas das coxas.
Meus pés, aqueles que me aguentaram o dia, o ano, a vida inteira!
Precisam de um sol, estão pálidos, com marca na canela.
Olho pro chão da casa tem uma sujeirinha ali, passar o pano depois.
Uma formiga zanza entre dois pisos, procura ela suas semelhantes? Talvez tenha se perdido, talvez tenha os olhos azuis pela cegueira, ou as pernas cansadas, talvez só dance com alguém que já se foi, tadinha, está caduca.
Subindo o olhar, meu nariz, ainda a mesma coisa, antes tivesse posto um piercing ali, a orelha, ainda cheia de furos. A quantos dei a honra de desvendar alguns segredos meus? Os meus pontos G, sim, tenho pontos... porque um só seria mal uso do terreno.
Meus cabelos lembro de querê-los brancos, sempre achei bonito, sexy, atraente... os cabelos brancos. Achei que ia ficar como a Ororo, poderosa, misteriosa, mas não, nem perto.
Meus dentes ainda são meus, e as manutenções estão pagas.
Minhas sobrancelhas não me conferem aspecto malvado. Ah como eu queria a expressão facial de minha vó, carranca pura era aquela mulher.
Meus lábios, esses já nasceram malditos, odiados desde sempre, agora se desculpam por todos os anos, finalmente os sinto 'assentados' no rosto.
Na borda do espelho tem uma mancha, que nunca saiu, só não sei até hoje quando começou esse nunca.
Vejo desenhos pelo meu corpo, marcas do tempo, de quedas, dores, alegrias, marcas do Marques, meu tatuador.
A ruga mais bela em mim, sem duvida a tenho desde antes os vinte, dessa jamais tentaria me desfazer, até porque, seria um puta preju, já que voltaria em alguns anos... Sorrio muito,sabe.
Meus ombros largos, masculinos como toda a estrutura, deram uma caída, mas ainda são respeitosos, e conferem altivez aos cacos de estrutura restantes.
Olhando o espelho, vejo que ele também envelheceu, tá cheio de manchas por dentro, riscado, rangendo me alertando pra aposta das duas, pedindo providencias. Mas eu to cansada, vou me deitar e esperar.
Esperar que se decidam e que sejam misericordiosas.
Que uma anule a outra e eu passe incólume, porque entre morrer e ficar cega prefiro minha vida com olhos verdes.
Nunca gostei de azul mesmo.

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